Hoje, em Salto, tivemos a missa de transferência dos restos mortais de Maria de Lourdes Guarda, do cemitério municipal para a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Monte Serrat, no centro da cidade.
Lourdes Guarda passa pelo processo de beatificação da Igreja Católica, pela sua história de vida, onde passou mais de 50 anos em uma cama, devido a problemas de saúde, mas que a nunca desanimaram mantendo-se firme em sua vontade de viver e de fazer bem a todos aqueles que a rodeavam.
"Lourdes fez de sua cama um púlpito e de seu quarto um mosteiro, tamanha era a sua força interior", ressaltou Dom Vicente Costa, bispo de Jundiaí, que presidiu a celebração ao lado de vários outros sacerdotes.
A deputada Célia Leão, no início de sua trajetória na luta pelos direitos das pessoas com deficiência, há mais de 30 annos, conviveu com Maria de Lourdes Guarda e foi uma das principais depoentes no processo de beatificação. "Viajamos por todo o Brasil e por vários países em busca de conhecimento e de reconhecimento para as pessoas com deficiência. Lourdes possuía uma força maior que todos nós, e mesmo com suas limitações físicas severas, conseguia nos levar para todo canto. Uma de suas pernas, que havia sido amputada, ela deu o carinhoso nome de "Celinha", lembra a parlamentar de Campinas.
na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Monte Serrat, em Salto
o poder público paulista e como convidada especial, amiga de Maria de Lourdes Guarda
Histórico
Maria de Lourdes Guarda nasceu em Salto, Estado de São Paulo, aos 22 de Novembro de 1926, filha de Innocêncio Guarda e Júlia Froner Guarda. Estudou como interna no Colégio Patrocínio das Irmãs de São José, em Itu, lecionou em Salto, com 18 anos no Colégio da Congregação das Filhas de São José (D. Caburlotto). Sonhava em seguir os passos de sua irmã, na vida religiosa, mas primeiramente precisava tratar de um problema na coluna, uma lesão que lhe causava muita dor. Foi operada com relativo sucesso em 12/08/1947, mas as dores não passaram, e precisou se submeter a uma segunda cirurgia, que a deixou paralisada da cintura para baixo: durante cinco anos sofreu seis operações, como tentativas frustradas de fazê-la andar. Com o pé direito gangrenado, teve a perna amputada do joelho para baixo. Pode-se imaginar a reação de uma jovem cheia de vida e de planos para o futuro ao saber-se totalmente imobilizada numa cama, sem ao menos poder se sentar.
No dia 09/08/1972, no Hospital Matarazzo, celebrou seus 25 anos de paralisia. Assume sua condição de deficiente física e embora deitada, numa forma de gesso, com uma perna amputada e a outra atrofiada, trabalha para pagar sua diária na enfermaria, fazendo tricô e bordados sob encomenda. Seu quarto é um ponto de encontro e de atração, que reúne não só amigos, mas pessoas que buscam consolo e ajuda para suas carências. Sua paz de espírito e sua alegria de viver "fazendo a vontade de Deus", se irradiam cada vez mais para além das paredes do quarto hospitalar.
Desta época seus amigos recordam de seu rosto sadio, corado, olhos azuis, brilhantes, e suas palavras: "a vida é boa demais". Enfim, se engaja na Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes - movimento internacional fundado na França, que ajudou a difundir no Brasil - Ao aceitar e assumir sua realidade paraplégica, abre espaço para acolher a graça de Deus, e tem a mesma experiência que o Apóstolo Paulo, 2° Cor 12,9: "Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder".
Em 1980, foi eleita coordenadora nacional da FCD, e no ano seguinte começou a viajar, formando em todo território nacional, grupos da fraternidade; graças a doações de passagens de uma empresa aérea, que incluíam os acompanhantes, médico e enfermeira. Em 1992 terminou seu mandato como coordenadora da FCD, e suas viagens cessaram, pois o movimento já estava semeado por todo o Brasil. Faleceu ao cinco de maio de 1996, e está sepultada no cemitério de Salto, no túmulo de sua família.
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